Ninguém nas galáxias acredita nesse concurso. A vencedora do Miss Universo é sempre uma terráquea...

"...a blusa dela enroscou no prego, rasgou, ela tropeçou e caiu nua na minha cama, amore! Eu juro!".

“Alô! Comprei uma coisa de vocês, fui usar agora e não func...”. O paraquedista não findou a queixa.

Beijou sapos, mordeu maçãs, espetou o dedo... Contudo, a realidade insistia em sufocar seus sonhos.

Ansiava usar cavanhaque. Os pelos não contornavam a boca. Completou o que faltava com lápis de olho.

Descobriu que era total flex: quando a maria-gasolina de sua ex o largou, ele se entregou ao álcool.

"Leve-nos ao seu líder, terráqueo!". "Papai, acorda logo! Tem dois homi verde cabeçudo te chamando".

Silêncio. Estava aflito. Então ela sorriu e colocou um par de sapatinhos sobre a mão. Aí ele sorriu.

Beijou as mãos daquela que seria sua esposa. Depois, correu para a outra, que sempre foi o seu amor.

Sorrindo, ofereceu-lhe seu carrinho. Era sua maior prova de amor por ela desde o jardim de infância.

Sentiu os degraus e suas quinas. Quando tirou o gesso, jurou aprender a andar direito de salto alto.

Levantou o punho e ela ofereceu-lhe a face. Mão baixando. A Maria da Penha já havia passado por ali.

"Escolha o sobrenome você mesmo". E toda a bicharada passou a chamá-lo de Adão First do Éden Garden.

Correu, pulou, chutou a bola, pisou na grama, correu novamente. Acordou. Ainda na cadeira de rodas.

Buquê de rosas murchas sobre a mesa. O dia dos namorados passou. Neste ano, ninguém para presentear.

Sentiu algo diferente, largou a boneca, correu para casa. "Mãe, machuquei por dentro. Tô sangrando!"

Obesidade, barba por fazer, solidão. Ao se conectar a internet, desconectava-se de sua própria vida.

Beijos, toques, volúpia! Estavam exaustos quando o marido dela entrou em casa com um buquê de rosas.

Brava, a bibliotecária percebeu que foram arrancadas as últimas páginas do livro "História sem fim".

"Quero ligá as trompa! Agora que tô com convênio de saúde bão, vô aproveitá!". "Mas Seu Genésio...".

Levantou o joelho do chão e guardou a aliança. Não seria agora (e com ela) que formaria uma família.

Pôs The Cure para tocar. Queria um som amigo ao arrumar a banheira, os pulsos, a gilete e a coragem.

De onde estava, Ana ouviu o marido elogiá-la. Ficou emocionada. Um viúvo saudosista... e cavalheiro.

Pilhas de livros em volta dele. Amava ler ali. Terminou o que estava fazendo, deu a descarga e saiu.

Mostrou fotos suas com lingerie. Queria deixá-lo excitado, mas a luz ruim e o foco torto o broxaram.

Bentinho apaixonou-se pelos olhos de ressaca de Capitu. Ele vivia a suspirar. Já ela vivia bêbada...

Monarquista convicto, subiu na Pedro II e desceu na Anhangabaú. Desembarcar na República nem pensar.

"João, Jesus transformou água em vinho de novo". "Ai! Lá vou eu limpar vômito de bêbado outra vez!".

Olhava fixamente aquela carta de despedida. Lágrimas. Suspirou e a rasgou. Desistiu: resolveu ficar.

No menu, somente nomes franceses. Foi embora. Não sabia como dizer “bobó de camarão” naquela língua.

Chegou na porta. Baixou o olhar. Suspirou. Levantou a mão. Ia bater, mas a porta se abriu. Sorrisos.

"Eita, achei vintão!". Já havia juntado quase mil ao revirar os bolsos do marido na hora da lavagem.

Precisava urgentemente de uma namorada. Achar sexy as curvas do frasco de catchup foi a gota d'água.


Levantou-se do chão, prendeu o cabelo e enxugou as lágrimas. Jurou que ele jamais a tocaria de novo.

"Acabou a tinta azul! E agora?". Ao final do temporal, o povo contemplou um arco-íris de seis cores.

Brincou de cavalo com um pai. Depois, de pião com o outro. À noite, o casal velava o sono do filho.

Juntou as mãos para rezar. Já era tempo de um ateu como ele tomar jeito. Esperava parar o terremoto.

Entregou a ela o último biscoito do pacotinho. Conhecia bem o perigo que corria no período da T.P.M.

Os lábios se tocaram. Foram sentindo o gosto um do outro: o dela era de paixão. Já o dele, de adeus.

Ele a amava. Mas só ele. Ou a matava na trama ou seus leitores deixariam de ler sua série de livros.

Puxou-a pelos cabelos e a esbofeteou. Sentia-se mal por tudo aquilo, mas o que fazer se ela gostava?

Subiu em um prédio alto. Olhou pra cima. "Obrigado!". Desceu. Dias antes, não podia nem se levantar.

Escreveu uma longa carta de amor. Depois envelopou. Pôs o seguinte endereço: "Céu, ao lado de Deus".

Matou aulas a vida toda. Descobriu tardiamente que pagaria por esses crimes na prisão do subemprego.

Trabalhava duro vendendo balas no semáforo de segunda a sexta. No sábado, fazia bico como arquiteto.

Aprendeu a pronunciar "eu amo você" e em latim. Entretanto, seu amor não retribuía nem em português.

Seu corpo escultural simplesmente caiu. Mas aquela coisa meiga em seus braços fez tudo valer a pena.

Foi ao sexto, ao segundo e ao nono. Enquanto não ficasse sóbrio, não acertaria o botão de seu andar.

Pediu aumento. Alegou que tinha dificuldades em rir das piadas do chefe e que era puxa-saco com MBA.

Malabarismo no farol, flanela no parabrisa, balas na calçada. Deixara de ser criança aos cinco anos.

Envelheceu... Da noite para o dia, de um minuto para o outro. Bastou tão-somente perder a esperança.

Resolveu escrever suas memórias, que se resumiam a um mês. Era o que o Alzheimer o permitia lembrar.

Foram dois anos de espera, mas finalmente ele chegou. Agora serão apenas um: ela e seu novo coração.

CLASSIFICADO: "Troco marido inútil, machista, bruto e traidor por rádio-relógio. P.S.: Volto troco."

Fizeram o teste de compatibilidade. Feliz, ele comemorou os 9,7. Já ela não tirava os 0,3 da cabeça.

O metrô comia os trilhos, ele roía as unhas. Na próxima estação, ouviria finalmente a resposta dela.

Para ela, só um sorriso; para ele, as portas de um mundo onde só existia felicidade, amor e ternura.

Brigaram pela mesma garota. Ele foi preso pela lei Maria da Penha; e ela saiu abraçada com a garota.

Jurou que seria a última vez que faria aquilo. Mas ela não acreditou. O olho inchado era testemunha.

Na carta psicografada: "Mãe, por favor, NUNCA MAIS coloca água sanitária na garrafa pet de guaraná".

Uma colher de açúcar. E outras... Provou: ruim. Não conseguiu adoçar seu café e nem sua vida amarga.

Estava sentado naquela cafeteria havia horas. "Deseja mais alguma coisa". Suspirou. "Amor próprio!".

Ele era totalmente viciado em sexo. Dos outros. Gostava mesmo era daquelas confissões bem cabeludas.

Entregava-se de corpo e alma. Para ela, amar não era problema. O problema mesmo era a reciprocidade.

O sol feriu seus olhos. E foi o que menos doeu, depois de vários dias, chorando na cama e no escuro.

Não aceitava perder. “Me dá aqui”. Chorando, o menino implorava para que o pai devolvesse seu X-box.

Gostava do Rock in Rio. Só achava estranho que no evento não tocava só rock e nem sempre era no Rio.

Na caixa, uma foto, uma rosa seca, uma aliança e um bilhete escrito "Amo você". No coração, saudade.

"Falsa? Importei de Paris e paguei os olhos da cara, invejosa!". Na etiqueta, a marca: "Luiz Vitão".

"Nós já estamos fechando, senhor!". Triste, foi para casa. Esperaria por ela até seu último suspiro.

"Um nanoconto? É sério mesmo? Esperava uma novela". Considerou seriamente mudar de musa inspiradora.

Sempre foi homem de uma única mulher. Nenhuma outra, além de sua mãe, aguentava suas insanas manias.

O sorriso dela era meigo, sincero e puro. Não precisava nem abrir a boca. Era um sorriso no olhar...

"Madame Ana faz e desfaz qualquer trabalho". Após várias ligações, a correção na placa: "Menos TCC".

Sorriu aliviado. Chegou ao trabalho antes de a chuva alcançá-lo. "Pego você na saída!", ela ameaçou.

Roubou uma Bíblia e a deu de presente de Natal para a mãe, com o mandamento "não roubarás" rasurado.

O gosto do café era menos amargo do que as palavras dele. Sentiu outro gosto: o salgado de lágrimas.

Eis meu nanoconto, na visão ilustrada de Rafael Sales:

Saiu do armário: parou de pentear o cabelo para frente, rasgou o boné e assumiu sua mente brilhante.

CLASSIFICADO: "Troco meu império jornalístico por kit com trenó de neve e telefone de Orson Welles”.

Apalpou os peitos demoradamente e com muito cuidado... Sentiu alívio ao não encontrar nenhum caroço.

Tem vergonha dos pés, mas não perde a pose: na praia, os scarpins mais bonitos sempre são os dela...

Estava inteiramente cego de paixão. Beijou-a na boca... Ele nem se importava com a pele gelada dela.

Quatro da manhã. Aflição. Repentinamente, ouviu o barulhinho mágico da chave na porta: filha segura.

Escrevia poemas para matar o tempo, enquanto o tempo, a melancolia e a saudade não o matavam de vez.

Dormiu com dezoito e acordou com 32. Morria de medo de cochilar e dar-se conta de que tem cinquenta.

A moça era uma torturadora sem compaixão: exibia aquele joanete horrível para quem (não) queria ver.

"Pode fumar aqui?". "Não, senhor!". "Ué! E por que aquele homem está fumando?". "Ele não perguntou".

Era muito mau caráter. Vendeu a mãe oito vezes e não entregou. Não tinha um pingo de palavra sequer.

Contou um por um. Lágrima. Sentiu-se aliviado. Seu bebê era perfeito; nascera com todos os dedinhos.

Chamaram-no de racista. Entretanto, ele não se importava nem um pouco. Não gostava de brancos mesmo!

Aos doze, usava batom e salto alto. Já a mãe, na cama do esposo, realizava sua fantasia de colegial.

Assoprou as velas. Desejou que no seu aniversário do próximo ano tivesse mais gente além de sua mãe.

Pegou o ferro de passar roupas e os deixou lisos. No final de tudo, a chapinha não fez falta alguma.

Ensinou ao filho a fazer contas e a andar de bicicleta. "Será um grande economista!". Virou motoboy.

Pegou o ferro de passar roupas e os deixou lisos. No final de tudo, a chapinha não fez falta alguma.

Quando iniciaria o concerto mais esperado de sua carreira, o maestro foi interrompido: "Toca Raul!".

Seguiu seu coração: declarou-se a ela. Antes tivesse seguido seu horóscopo: "Hoje não é um bom dia".

Melancia, melão, morango... Amava as mulheres frutas da tevê. Só não gostava muito da Mulher Banana.

CLASSIFICADO: "Troco sessenta anos de ceticismo religioso por vinte segundos de fé e morte plácida".

Desejou-a da cabeça aos tornozelos. Evitava olhar os pés. Aqueles joanetes lhe saltavam aos olhos...

Escovou seu gato angorá. Só tinha olhos para ele. Já os ouvidos ignoravam o choro do bebê no quarto.

Sua memória estava voltando. Olhou para a mãe: "Gosto de Coca! Boa senhora, poderia me trazer uma?".

Deixou de responder seus e-mails, não atendia suas ligações e mesmo assim ele não entendeu o recado.

Violentou-o por vários anos. Até que compreendeu que seu amor próprio não merecia esses maus tratos.

Realmente precisava esquecê-la. Concentrou-se nos defeitos. "Desgraçada! Defeitinhos apaixonantes!".

Nunca esteve tão deslumbrante. Mas, para ele, era como se fosse uma dama em um quadro: inalcançável.

Múltiplos pedaços. Tentava encaixar um aqui, outro ali. Porém, seu coração estava muito fragmentado.

Jogou a moeda. Deu coroa. Traçaria a velha e economizaria grana. Aquela profissional era muito cara.

"Preto...". "Negro, por favor". "Não, o meu carro é preto mesmo". "Ah, desculpe! É força do hábito".

Mentia: era acreditado. Aí contou a verdade: ninguém acreditou. Sua carreira política chegou ao fim.

Lavou a maquiagem e as lágrimas. Olhou-se no espelho. Jurou que nunca mais confiaria em outro homem.

Acharam seu corpo inerte no chão do banheiro. Na mão, um papel com a palavra "positivo" em vermelho.

Faliu sete vezes. Último investimento: comprou um cemitério. Na cidade, ninguém morreu por dez anos.

Chegou a uma conclusão: sua mãe estava certa. Olhou a filha na porta, que pensa que ela está errada.

"Que cheiro de queimado". "É que o micro-ondas queimou. O pior é que minhas meias continuam úmidas".

Deixaram-no bêbado e o mataram. O sindicato das aves entrou na justiça contra essa prática natalina.

Sentiu o peito arder, o empapar do uniforme. Caiu. Tudo silenciando. Para ele, a guerra acabava ali.

Deixou de acreditar em Papai Noel no minuto em que o "bom" velhinho o roubou num joguinho de pôquer.

No toalete, antes de fazer a prova de improviso. Sem papel. Olhou a meia. Sorriu. Nota dez na prova.

Nunca dava uma dentro. Evitava falar. Mas precisava consolar a família do falecido: "Meus parabéns".

Foi à missa, depois ao culto e, na encruzilhada, despachou o galo preto. Toda ajuda seria bem-vinda.

Segurou o choro. Da fresta, viu o fuzilamento do pai. Orava para que os nazistas não o encontrassem.

Tem muito amor para dar. É uma pena que ainda não conseguiu encontrar alguém que queira aceitá-lo...

Eles trocaram ouro por espelhos, vida por massacre, saúde por doenças... "Quem descobriu o Brasil?".

A doença o definhava. Aos trinta, parou de andar. Aos quarenta, de falar. Aos cinquenta, de fumar...

Seguiu-a pelas ruas. Em casa, ela bateu o portão. Do lado de fora, ele até ganiu, mas não a comoveu.

No salão de cabeleireiro, a bandeira do Brasil na parede, com os dizeres: "Ordenado e Progressiva!".

Dizem que felicidade não se compra, mas ele pagou um real e cinquenta nela. E tem gosto de baunilha.

Estava triste. Por nada e por tudo. Aí ofereceram chocolate. Um sorriso meigo e menos triste brotou.

Gabrielle vive distribuindo sorrisos gratuitamente. Isso após o formidável trabalho do ortodontista.

Ela sorriu com suas palhaçadas. O sorriso dela era tão bonito que ele não imaginava o rosto sem ele.

EPITÁFIO: "Aqui jaz Gil, que driblou a morte durante a vida e, infeliz, resolveu marcar gol contra".

Tocou levemente a rosto dela. "Mas eu ainda te amo". Ela abaixou a mão dele. "Até ontem, eu também".

Toda de branco, buquê em mãos, sorriso... Em frente ao espelho, acarinhou a barriga. União e vida...

Três anos de carinhos e elogios. Ele aguentou aquilo o quanto pode. Aquele masoquista não era feliz.

"E pra acompanhar o café?". Olhou a cadeira vazia. Pensou em responder "a Malu", mas pediu adoçante.

Sempre quisera ser uma mulher de parar o trânsito. Sentiu-se nas nuvens no dia em que a atropelaram.

Entrou na androteca, fez a carteirinha e, no mesmo dia, pegou emprestada uma pessoa para bater papo.

EPITÁFIO: "Aqui jaz Rosa, que, em vida, nunca recebeu flores. Família agradece as coroas recebidas".

Desespero, lágrimas, ódio, tristeza, esperança, conformismo, saudade, amizade... Um dia já foi amor.

“Frio mata dois na cidade”. Sentiu pena. Fechou o jornal. Adiante, cobriu um mendigo com o tabloide.

Assista abaixo a adaptação deste nanoconto:

Filme de 100 segundos, baseado em nanocontos de Edson Rossatto, do projeto CEM TOQUES CRAVADOS, e produzido como trabalho final da Oficina de Realização Audiovisual da SEDA - Semana do Audiovisual - Bauru - SP

Queria o divórcio, mas só confiava no amigo advogado, que era criminalista. Resolveu matar a esposa.

Era sempre assim: no meio da conversa, ele se perdia nas ideias. Os olhos azuis dela o hipnotizavam.

Foi tapando os buracos como podia. De cara, Noé se arrependeu de levar o casal de pica-paus na arca.

Vladesco não era um vampiro qualquer. Tinha linhagem. Só saía de seu castelo para sugar sangue azul.

Comprou um caderno de caligrafia divino! Precisava parar de escrever certo, mas por linhas tortas...

Gastou dez meses e quinhentos reais chupando sorvete, mas trocou os palitos por aquele ioiô maneiro!

Esperou de novo na esquina, mas o dono não apareceu. O cão voltaria no dia seguinte... e no outro...

Jogou tudo para cima. Vida nova era seu objetivo principal. O secundário era ter um teto onde viver.

Na polícia, as perguntas. Se pudesse voltar atrás, não teria se casado com ele e com suas confusões.

Tomou a criança nos braços e a beijou, sorrindo. Odiava. Queria que sua campanha eleitoral acabasse.

Contemplou a face de seu pior inimigo. Chorou... Às vezes, olhar no espelho se torna algo revelador.

Contou no ouvido dele que era sua primeira vez. Experiente, aprendeu a não acreditar em prostitutas.

Quando ela voltou do banheiro, a conta do restaurante ainda estava lá. “Vamos dividir?”, ele sorriu.

Tinha tesão por ela. Havia se apaixonado. Até contarem para ele que mulheres não têm pomo de adão...

Pousou, olhou, gingou. Bateu as asas negras. Era um corvo muito malandro: levou a alma dele no bico.

Mastigou 32 vezes antes de engolir. Houve muitos outros sapos antes. No entanto, nenhum como aquele.

Ele a chutava e lhe roubava comida todos os dias. Ainda assim, ela mal esperava pelo seu nascimento.

Digitou seu nome no Google. Notou um blog com cem mil visitas, feito por sua ex: www.morracelso.com.

Detestava quando pegavam suas coisas sem permissão. Hoje pediram e ela, satisfeita, abaixou o sutiã.

Tentou pôr na boca aquela garfada pela quarta vez, mas foi interrompida de novo pelas cantadas dele.

Era suplente do protagonista de "O Fantasma da Ópera". Em vinte anos, o ator principal nunca faltou.

...2385, 2386, 2387, 2388, 2389, 239... er... Dois trez... Éééé... droga! Um, dois, três, quatro...

Ouviu aquela música pela nona vez. Não tinha coragem de pedir para o vizinho grosso baixar o volume.

CLASSIFICADO: "Passo o ponto. Dez anos no mesmo local. Freguesia boa. Tratar: Sagrado Templo da Fé".

Assistia a um seriado sobre serial killers na tevê todas as quintas. Na sexta, aí a estrela era ele.

Gentil, recomendava livros naquela biblioteca havia quarenta anos. E ele nem ao menos trabalhava lá.

"Ctrl + z". Nada. A amante nua na cama e a esposa na porta... Sem segunda chance. "Ctrl + alt +del".

Aos setenta, voltou a se sentir útil. Cumpria como ninguém o trabalho de office-old daquela empresa.

Evitava-o como podia. Onde ele estava, ela não aparecia. Tudo isso para não se jogar em seus braços.

A voz dela era apaixonante. Sempre que ele podia, ia ao aeroporto ouvi-la anunciar os próximos voos.

Foi linda à festa. Quando retornou, tomou um longo banho. Metade de sua beleza escorreu ralo abaixo.

Os três se desentenderam e Fernando teve de apartar a briga. "Ah, esses heterônimos encrenqueiros!".

Apostou um dos olhos: Ana nunca o trairia. Nas festas a fantasia, um clássico: Zé vestido de pirata.

Irritado, não aguentava mais esperar. Foi quando ela desceu as escadas deslumbrante. Aí ele sorriu.

Enxugou o suor da testa e olhou. Sentiu orgulho. Fizera tudo sozinho. Sorriu, deu a descarga e saiu.

Contemplou a fachada do Coliseu. Suspirou e entrou. Lions versus Gladiators. Seu irmão jogaria hoje.

Foi descendo o dedo pela lista até pousá-lo sob seu nome. Sorriso. O resultado valeu todo o esforço.

Luz de velas. Somente as chamas em meio ao silêncio. Eles ansiavam que a eletricidade voltasse logo.

Mímica, gargalhadas, show de sombras. O filho caçula torcia para que a eletricidade jamais voltasse.

Escreveu um livro sobre o amor de sua vida. Mas conheceu Laura. Passou a escrever uma nova história.

Linda como uma sereia. Quando finalmente viu a mansão onde ele vivia, apaixonou-se pelo seu canto...

Havia dez anos que não tirava férias. Nesse ano, finalmente tirou... e pegou uma doença. Quarentena.

Foram sete anos de um imenso azar. Quem mandou quebrar o espelho justamente no dia de seu casamento?

Desceu do trem. Olhou o povo agitado da cidade. Roupas velhas, chapéu e, na mala, sonho e esperança.

Adorava presentear em datas especiais. Até contrair uma dívida milionária no "Dia do amigo" de 1978.

Ao perceber a barriga dela, levantou-se e, sorrindo, ofereceu seu lugar. E ela nem estava grávida...

Assistindo ao National Geographic, mudou seu testamento: deixou tudo para as Emas Mancas de Bengala.

Foi tirando peça por peça. Quando a garota ficou pelada, ele concluiu que a calça jeans era gostosa.

Pensou em Bia e tuitou “Amo você!”. “Também te amo!”, respondeu Ana... e Sara... e Vera... e Rose...

Família, trabalho, amor, dinheiro... As costas doíam. Foram projetadas para suportá-lo, não o mundo.

Ajoelhou-se aos pés dela para fazer o pedido. Sorrindo, apontou para o scarpin: "Empresta pra mim?".

No metrô, ela enroscou o espiral do caderno no alargador de orelha dele. Aí enroscaram-se na vida...

Na calçada, fez o sinal da cruz e pediu forças. Depois baixou o capuz, puxou a arma e foi trabalhar.

Sempre dizia que era uma dama da sociedade. Entretanto recusava-se a contar como havia chegado lá...

À beira do lago, em seu reflexo, uma lágrima pingou... e outra... e outras. Temia que transbordasse.

Era a sua primeira vez. Tirou as roupas. Orava para que não tivesse uma ereção diante do urologista.

Perdeu tudo no alagamento. A revolta veio com a pergunta do repórter: "Como você está se sentindo?".

Sempre fora um paulistano orgulhoso. Fala a todos que sua cidade lembra Veneza. Mas só quando chove.

O vovô detestava que se intrometessem em sua vida. No táxi: “Para onde vai?”. “Não é da sua conta!”.

Sentiu a lâmina rasgar a carne. Escorreu o líquido vermelho viscoso. Decidiu deixar a barba crescer.

Parou de comer gordura numa sexta. Era a sua segunda chance de vida após a primeira parada cardíaca.

CLASSIFICADO: "Procuro jovens virgens para ritual. É necessário serem de libra e não terem família".

Transformou água em vinho e, gentilmente, ofereceu ao convidado. O ingrato recusou. Desejava uísque.

É doador de órgãos: doou o coração para quem não o valorizava e, logo após, o fígado para a cachaça.

O decote terminava no umbigo, enquanto a minissaia ia até o meio da coxa. "Que velório animado...!".

O prédio possui um acervo com mais de duzentos milhões de livros. Trata-se do maior museu do gênero.

Rosa, amarelo, roxo, vermelho, branco, azul... Em cada galho, uma cor diferente. Enfim, a primavera!

Cortou o indicador com os papéis do divórcio. Aquela seria a menor de todas as dores dali em diante.

Acabou com um longo casamento por uma garota. Denunciou a esposa. Nunca mais ela espancaria a filha.

Entregou a ela sua máxima prova de amor: um livro, uma pétala de rosa e um fragmento de seu coração.

Tomou coragem: discou três números. Fone no gancho! A timidez o impediu de discar os outros cinco...

O caçula queria a família junta no Natal. A mãe só não gostou do fedor putrefato do corpo do esposo.

Sabia que a mãe gostava de flores. Trouxe-lhe um buquê. No cartão: "Sei que trai papai. Vou contar".

Frio na barriga. Tocou a mão dela. Corou. Ela sorriu. Era o fim da amizade, mas o início de um amor.

EPITÁFIO: “Aqui jaz Noel, que um dia foi Papai, mas morreu pela descrença de crianças deste século”.

"Criativo tatuar um fusca vermelho na lombar, vó!". "Quando tatuei há trinta anos era uma joaninha".

No relógio, quinze para às oito. Frio na barriga. A qualquer momento, ele entraria por aquela porta.

E-mail, telefone, chefe chamando... Estresse total. Mas isso não a impedia de distribuir sorrisos...

Pintou o céu de verde, depois de bordô... Sem essa indecisão, o mundo seria concluído em cinco dias.

EPITÁFIO: "Aqui jaz Ari Nabuco, que não tinha onde cair morto. Família agradece doações dos amigos".

CLASSIFICADO: "Precisa-se de homem de pés quentes e mãos carinhosas. Desejável abraço bem apertado".

Os portões se abriram. Estavam fora sua mente serena, seu corpo torturado, seus ideais de liberdade.

Deu tchauzinho, mostrou a língua, mandou beijinho, deu piscadinha... só para vê-la sorrir de novo...

Em dezenove anos de amor, vinte encontros. Ela vivia no Brasil; ele, no Japão. Um brinde à internet.

Doutorado em literatura, quatro livros escritos. Aos trinta, virou bartender. Salário bem mais alto.

Viu pelo vidro do carro um homem apanhando. Apiedou-se. Mas a barreira de vidro o impedia de ajudar.

Só metade da tela do cinema estava aparecendo. Ele nem podia reclamar: pagara somente meia entrada.

O dragão tinha asas longas, dentes afiados e o rabo atravessava as costas e acabava na virilha dela.

Queria ter nascido com pernas. Ao menos era boa de nado e canto. Mergulhou, seguida de seu seduzido.

Ele a viu no café. Sentou-se em frente à mesa dela. Frio na barriga, mãos suadas... Suspirou: "Oi!".

Assinou a lei. Por ela, cento e dez mil pessoas perecerão naquele país. Eis o poder que a caneta dá.

Portuguesa, brasileira, americanizada... Importa? Importa mesmo o que que a baiana tem. Que notável!

Dizia-se objetiva, prática, racional... Até receber rosas vermelhas, uma taça de vinho e um sorriso.

Esquecia nomes, nunca rostos. Chamava todos por apelidos fáceis de se lembrar. "Amor, casa comigo?".

No ponto, deu lugar para uma idosa subir no ônibus. E para várias outras. O veículo partiu. Sem ele.

O folgado sorriu e abraçou o reverendo, seu futuro sogro. “O senhor é meu pastor e nada me faltará!”

Na travessia para o mundo dos mortos, o barqueiro lhe cobrou suas duas moedas. "Tem troco pra dez?".

Finalmente seu castelo estava edificado. Não se importava que os outros vissem um simples barraco...

Equilibrou-se em cima do parapeito. Vento no rosto. Lembrou-se do sorriso do caçula. Chorou. Desceu.

Duzentos mil acessos! Seu blog foi o mais visto naquele dia. Entretanto, não tinha para quem contar.

Doutor em Letras, aos noventa, disse que não sabia ler o e-mail do bisneto: "Wow véi! C tc cmg hj?".

De Sampa, foi trabalhar na Bahia. Ar puro litorâneo. Precisou fazer inalação no escapamento da moto.

De mãos dadas, brincavam de ciranda. Juraram amizade eterna, embora não se vissem havia trinta anos.

CLASSIFICADO: "Troco dez anos de horas extras e premiações por seis dias dedicados à minha família".

Atirou sem dó, o último, entre os olhos. Mostrou o distintivo. “Você tem o direito de ficar calado”.

“Quer que segure?”. Apontou. A contragosto, a velhinha, em pé, entregou a bolsa ao rapaz sorridente.

Uma vida inteira naquele "caderno". É assim que apelidara o seu corpo. As tatuagens são sua escrita.

"Que peitos!". Desejou por algum tempo, depois saiu da frente da vitrine. Não transava havia um ano.

"Tem de quatro e de um". Olhou na carteira. Disfarçou. "Vai o de um. Tô sem fome". A barriga roncou

"Feliz aniversário!". Nada. Abriu o imenso bolo e olhou. "Eita, não fizeram buraco pra respiração!".

CLASSIFICADO: "Precisam-se de cuidados e carinhos de filho. Tratar: Abrigo da Velhice Desamparada".

CLASSIFICADO: "Compramos deputados e senadores. Exigimos anos de experiência em votações polêmicas".

Apertou o interruptor: as luzes se acenderam. Abraços, lágrimas. O progresso enfim chegou ao sertão.

“Quer se sentar?”. Ela agradeceu o cavalheirismo e aceitou. Esqueceu-se até de seu feminismo rígido.

Eram palavras lindas... de vida... de amores... de ternura... Chorou. Fernando Pessoa a conquistara.

"Se ele não morrer, não recebo nada? Ele não vai querer morrer de bom grado, moço. É muito egoísta!".

"Alô?... Não, obrigado... Sei que não dá pra saber o dia... Não! Não quero comprar um jazigo, ora!".

"Pode me comprar um suco?". Tinha fé no mundo. Lá veio o menino de rua com o suco e o troco pra cem.

Mirou com calma. Atirou, errou, xingou. Teve de se levantar, pegar o papel amassado e jogar no lixo.

A impressora triturou a folha, o micro reiniciou e ele não salvou o arquivo. Reunião em dez minutos.

Convenceu a esposa a usar comida no sexo. Ela esperava morango e chantilly. Ele levou farofa e jiló.

Escreveu um livro, plantou uma árvore e teve um filho. Não se sentiu completo até ganhar um gatinho.

"Caim, que olhar é esse? Cadê papi e mami?". "Saíram". "O que escondes aí?". "Surpresa, Abelzinho!".

Ganhou uma sandália rasteirinha do namorado, que ignorava o joanete dela, apelidado de “sexto dedo”.

Tirou a mão dela de lá e a olhou com reprovação. Era um dos últimos a manter a santíssima castidade.

Pegou sua esposa na cama com o chefe dele. Escondeu-se. “Aleluia! Vou ser promovido no escritório!”.

EPITÁFIO: “Aqui jaz Ana Júlia, que, em vida, vendia o corpo, mas, muito caridosa, dava aos pobres.”.

Bip... bip... bip... bip... bip... bip... bip, bip, bip, bipbipbipbipbiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...

Na página 397, descobriu que o mocinho era o vilão. Fim. Só de raiva, abriu outro livro. “Página 1”.

Do banco do jardim, apreciava a frente da casa. Em seguida, saiu pelo portão; o dono poderia chegar.

Comprou um galão cheinho de gasolina. Longa caminhada. Quando voltou, o carro já não estava mais lá.

Tinha vergonha dos seios grandes. Esperava que quando emagrecesse, ele pudesse ter peitos menores...

Seria um sequestro, mas se tornou um parto. Um bandido parteiro, uma mãe feliz, uma criança chorona.

Na calçada, olhou para os dois lados. Nada. Quando o caminhão se aproximou, ele resolveu atravessar.

“Sente-se aqui!”, e cedeu o lugar. Enxergou nos cabelos brancos daquela velhinha o rosto de sua avó.

Tomou o último gole. Viviam a dizer que ele morreria bebendo. Só não imaginavam que seria pesticida.

"Moço, dá dinheiro pra eu tomar uma pinga?". "Quer me enganar, é? Sai pra lá com esse bafo de pão!".

Um salto vibrante com um soco no ar. Nas costas, o número dez e o sorriso de milhões de brasileiros.

CLASSIFICADO: “Compro filme ‘Amor estranho amor’ ou troco pelos cds ‘Xuxa só para baixinhos’ 1 e 2”.

"Aceita cartão? À vista, tem desconto? Tá caro, hein!" Conseguiu seis papelotes pelo preço de cinco.

Chorou sobre a tumba do pai. "Nunca me esquecerei o que fez, ordinário! O filho dela é seu, não meu"

Olhavam abraçados o pôr-do-sol alaranjado. Voltaram à realidade: revirar o lixo à procura de comida.

CLASSIFICADO: "Procuro Eva, amor infantil. Última vez vista: na rodoviária, chorando minha partida."

Madrugada. Desceu as escadas devagar. Luz acesa. Susto. Um rosto quase esquecido. Lágrimas. Abraços.

Caiu uma... e outra, e outras. Caíram várias. Um tapete grosso e macio se formou. Outono chegando...

Na cama, ela o afagava com segundas intenções. "Qual é o segredo de sua força, Sansão?". "Neutrox!".

Foi um pedido singelo; ele jamais se esqueceu. Entre as mãos frias dela, colocou uma orquídea lilás.

No ônibus, o menino sorriu. "Qué?". Foi a mais doce pipoca que aquele velho triste saboreou na vida.

Jogou uma pedra no rio. Ela quicou. Formou círculos na água. Não adiantava chamar, a Iara não viria.

Tomou posse na Academia de Letras como imortal. Assumiu a cripta dez, antes ocupada por Bram Stoker.

João amava Maria, que amava Simone, que amava a grana de João, que se contentou em vê-las transando.

EPITÁFIO: "Aqui jaz Laudo Dalton, que não enxergava cores, mas insistiu em tentar desarmar a bomba".

Queria ser profissional da saúde. Mas tornou-se hipocondríaco. Agora era profissional das doenças...

"Papai, vamos brincar?". "Vamos!". O filho foi pegar seu Playstation; o pai foi procurar o seu pião.

A modelo de mãos recebeu a proposta mais ousada da carreira: posá-las nuas. Sem esmalte e nem anéis!

Marcou as iniciais de seu nome com ferro em brasa. Agora sim aquelazinhas saberiam que ele tem dona.

Passou seis anos na faculdade de Medicina e aprendeu somente a aviar receitas e a gritar "próximo!".

Sem concorrente, Adão relaxou e não prestou assistência à esposa. Flagrou Eva na cama com a cobra...

O Rei comeu o Peão. O Bispo comeu a Rainha. Já o cavalo... Ah, esse deixaram-no de fora da festança.

Rasgou seu peito, tirou seu coração e ofereceu. Entretanto, ela não aceitou e nem ofereceu o dela...

Encontrou em um sebo seu último livro lançado. Na página de rosto, uma dedicatória sua para sua mãe.

Em casa, o ferreiro pegou a mulher na cama com o marceneiro. Estava comprovado ali o velho ditado...

Tinha uma tatuagem em cada perna. Na esquerda, escreveu "play". Na direita, "pause". Vivia mancando.

Acenou e sorriu. Ela não deu bola, mas, mesmo assim, sentia-se vitorioso. Estava vencendo a timidez.

“Te amo, meu filho, não importa que sua opção sexual seja diferente da minha. Seja um hetero feliz.”

"Infiel!", gritou ele, branco. "Não sou!", gritou ela, branca. "Papai, vem aqui!", pediu ele, negro.

Sem muros, nem portas, nem correntes. Ainda assim, a alma dela estava trancada no pior dos cárceres.

Deixou a velha vida em busca de si. Saudade, lágrima. Uma foto. Sorriu. Trazia consigo os que amava.

Pagou a última. Alívio. Depois de 24 prestações, o ferro de passar roupas finalmente estava quitado.

Da janela do trem, viu as luzes da cidade pela última vez. Em breve, só ouviria o cantar dos grilos.

Repentinamente parou. Arregalou os olhos. Empalideceu. Uma dúvida acabara de surgir: “Peido pesa!?”.

Sexo, violência, corrupção, bebida, cigarro, consumo, mentiras... e no ibope 98 pontos de audiência.

“Nunca amarei novamente!” Então conheceu Marie Eli. Seus olhos brilhavam enquanto a vida recomeçava.

Por vinte minutos, falou ao patrão tudo o que queria. O chefe disse apenas uma palavra: “despedido”.

Quando ela o viu, seu coração encheu-se de esperança. Porém, não lhe trouxe carta alguma. De novo...

Abriu o livro e encontrou uma pétala de rosa: seca. Os olhos verteram uma lágrima: molhada. Saudade.

Comprou um teste de gravidez com o dinheiro da mesada. Em casa, o resultado: família desestruturada.

Os olhos deles brilharam: curiosidade pelo brinquedo do pai. Um apertou o gatilho; acertou o outro.

Jornada: seis dias de trabalho por um de repouso. Concluiu o mundo, mas jurou não persistir no erro.

De manhã, achou cem reais. "Deus ajuda a quem cedo madruga". Não ajudou quem perdeu a nota mais cedo.

CLASSIFICADO: “Seven Sisters Night Club. Venham conhecer! Garotas de alto nível! Negócio familiar!”.


CLASSIFICADO: "Alugo crianças para serviços externos. Oito a doze anos. Especialidade em semáforos."

Seriam doze tábuas, mas a tendinite o atacou na décima. Julgou que já tinha mandamentos suficientes.

Beijou a esposa apaixonadamente. Depois de algum deslize, o seu amor era intensificado pela culpa...

CLASSIFICADO: "Procuro trabalho. Aceito qualquer um oferecido. Pedi esmola para pagar este anúncio".

Bip vagaroso e compassado. Fios o ligam a máquinas. Ontem, rachas na avenida; hoje, racha na cabeça.

Viu crianças brincando no parque. "Queria ter nascido criança; nasci pobre.", e foi olhar os carros.

Fazia tudo por ela. Já ela, fazia tudo o que podia por ele, quando não tinha nada melhor pra fazer.

Vestiu-se de monstro para assustar o sobrinho. Vinte segundos de gargalhadas, vinte anos de terapia.

"Postura reta, hein!" e colocou o livro equilibrado na cabeça da filha, cujo sonho era apenas lê-lo.

CLASSIFICADO: "Vendo casa com os melhores anos de minha vida ou troco por nova vida de maior valor".

O despertador tocou às cinco, ele levantou às seis e acordou às oito, depois da nona xícara de café.

"Mãe, a professora Samanta faltou. Essa aqui é a professora prostituta. Fala oi pra ela!". Silêncio.

CLASSIFICADO: “Vendo computador usado, chutado e esmurrado ou troco por uma cartela de analgésicos”.

"Seu beijo é doce e macio como um flan!". Então ela entendeu o porquê daquelas mordidas doídas dele.

Já não eram mais íntimos, e também não podiam ser amigos. Algum tempo depois, eles mal se conheciam.

Quis roubar um beijo. Ela virou o rosto; depois sorriu e concedeu um selinho. Criminoso reabilitado.

Fizeram o teste de compatibilidade. Feliz, ele comemorou os 9,7. Já ela não tirava os 0,3 da cabeça.

O médico sugeriu felicidade em mínimas doses. Para ela, eram encontros agradáveis. Para ele, a cura.

"Vou beijá-la até o fim de minha vida". E cumpriu: um beijo de dez minutos, seguido de sua execução.

Oito anos de amizade. Três de namoro. Noivaram um. Cinco meses de casados, um arroto. Conheceram-se.

"Não, não! Tem que ser Josafá!". "Esse nome é feio! Só empresto a barriga se ele se chamar Jesus!".

CLASSIFICADO: "Troco coração farto de ilusões por pedra de igual tamanho. P.S.: Não aceito retroca."


Tristinho. Na mão, a sorte no biscoito chinês: "Felicidade logo". Há dez anos guardava aquele papel.


"Eu sinto muito! Infelizmente sua história não rende um bom livro" e foi psicografar outro espírito.


Conseguiu comprar uma casa na Paulista. Foi a sexta vez desde que começou a jogar Banco Imobiliário.


Peixes e aquário. Separaram-se pelo signo. Anos depois, tristes, deixaram de acreditar em horóscopo.


Triste, afogou as mágoas na bebida e acabou com tudo: mandou chover quarenta dias e quarenta noites.

Em volta dele fadas, dragões, elfos... "Isso não existe!". Sumiram. O adulto nasce, a criança morre.

"Só acredito vendo", disse Tomé. Então Jesus se deitou no chão e fez trezentas flexões em um minuto.

Olhou em volta: dez gatos e um cão. Velho e só, preferia estar mal acompanhado, mas com pés quentes.

Juntos seriam um só coração. Mas a distância os amaldiçoava a ser duas metades com um único encaixe.

Mãos dadas pelas ruas. Ele conduzido por ela. Coração apertado pela separação: primeiro dia de aula.

Na sola, tinha um furo; na calça, um remendo. Na mão, um jornal com "PRECISA-SE" circulado à caneta.

Ontem dezesseis anos, amanhã completará vinte. Na identidade, a data de nascimento: 29 de fevereiro.

“Comida saudável é comida colorida”, disse a nutricionista. Aí ele encomendou vinte quilos de M&M’s.

Enter. Depois de suspiros, o arrependimento. Disse naquele e-mail o que não falou em anos de namoro.

“Não tem Coca, pode ser Pepsi?”. Com a vida infeliz e dolorida que levava, que diferença faria isso?

Já não lhe servia. Contudo, ou ela entrava naquela calça jeans ou mudaria seu nome para Ermenegilda

Retornou do mercado com a compra do mês: ração para os cães e gatos e cinquenta pacotinhos de miojo.

Abriu outros dois botões e decotou ainda mais sua blusinha. “Ah! Quero só ver ele me multar agora!”.

Esperou-a na plataforma, mas ela não apareceu. Embarcou, então, numa melancolia até o final da vida.

Respirou bem fundo e suportou cada larva que apareceu. Valeu a pena quando contemplou as borboletas.

Justamente na noite em que ela estava desarrumada e com o cabelo bagunçado foi que ele se apaixonou.

Parada cardíaca. Tristemente o coração de Sofia cessou a capacidade de amar. Agora é uma morta-viva.

Sofreu bullying desde criança por conta de sua cor. "Volta pra Alemanha, branquela! Sai da África!".

"... em 36 vezes...". Depois de um triste divórcio, telemarketing vendendo jazigo é peça do destino.

Na carta psicografada: "Mãe, por favor, NUNCA MAIS coloca água sanitária na garrafa pet de guaraná".

Triste, tuitou "Sinto-me só!". Setenta milhões retuitaram e novecentos mil responderam "Eu também!".

A professora viu o desenho da família do aluno, todos de mãos dadas: vó, vô, ele, pai um e pai dois.

Pulou da janela vestido de Superman. Engessado, concluiu que era um herói mais na linha do Chapolim.

Procurou o número na agenda no J, de João, e no T, de Tio João. Encontrou no C, de Casa do Tio João.

Tentou ser juiz de futebol, mas a inscrição foi barrada ao descobrirem o passado cândido de sua mãe.

Olhou para o garçom: "Certo, mas se você parar de fazer esse biquinho o escargot fica mais barato?".

Era a única mulher lá por quem nunca poderia se apaixonar. Mas existe história de amor sem conflito?

Perdeu uma das pernas e, com isso, sua identidade. Estranhava quando a chamavam de noventenoveopeia.

Viveu a vida que pediu a Deus. Entretanto, decididamente detestou o pós-vida que não pediu ao Diabo.

"É agora!". O trem de pouso tocou o solo. "Droga! Pensei que bateria a meta do dia!", disse a morte.

Depois da transa, Veridiana acariciava com cuidado os testículos dele. "Ah! Que saudades dos meus!".

"Pô, mulher! Larga o meu pé!". "De jeito nenhum! Quer se matar? Vai fazer isso no seu apartamento!".

No chão, amarelinha. Ele tremia como uma vara verde. Ela, bem vermelhinha. Um semáforo de inocência.

Amou-a por onze anos. Em uma manhã, deixou de amá-la e se apaixonou pelo reflexo que via no espelho.

Inspirou com bastante vontade o travesseiro da esposa. Ignorava que o gostoso perfume era do amante.

Sonhou claramente com um ornitorrinco. Só não tinha certeza em qual animal apostar no jogo do bicho.

Ele gostou das piscadinhas dela, enquanto ela, distraída, só se preocupava em tirar o cisco do olho.

Ele colocou no cestinho uma moeda de cinco centavos. A estátua viva se mexeu: levantou o dedo médio.

Dançou sozinha aquela música pela quarta vez. Sozinha não. Ele estava ali. Ela só não podia tocá-lo.

Ela é namorada dele há cinco anos. Hoje será especial, porque será quando ele contará isso para ela.

Trocaram as camisas entre si após o jogo. Ele pegou micose. O outro cheira a camisa todas as noites.

Quando finalmente aprendeu a ser pai, teve que começar a estudar novamente. Desta vez, para ser avô.

“Gostosa!”. “Cavala!”. Sempre que precisava se sentir desejada, passava em frente àquela construção.

CLASSIFICADO: "Troco coleção completa da revista 'Bela Noiva' por exemplares da revista 'Alô Bebê'".

Pintou os cabelos de azul-turquesa. Todos estranharam. Diziam que ela ficava bem era de verde-limão.

Na sala de aula, pediu emprestado um lápis "cor da pele" ao amigo. "Certo, mas da minha ou da sua?".

Estudaram juntos na Escola Especial para Mudos. Queriam botar o papo em dia, mas carregavam sacolas.

Comeu o pão que o diabo amassou por anos e anos. Ganhou tanta experiência que passou a amassar pães.

Quinta xícara de café. Se fosse vinho, ele já teria conseguido coragem para se declarar à garçonete.

Depois de comer a Chapeuzinho Vermelho, o Lobo Mau se arrependeu. Teve que assumir o lobisomenzinho.

Sussurrou no ouvido do marido: "Estou grávida de um menino!". Ele a socou. "Sua traidora pedófila!".

Casou virgem na igreja. Isso na cabeça do pai. No bairro, era conhecida como "Bia porta dos fundos".

Beliscou o bumbum da garçonete, que agradeceu indo à cozinha e cuspindo secretamente na comida dele.

EPITÁFIO: "Aqui jaz Mário, que todos fingiam conhecer só para não cair numa piadinha bem sem graça".

Procurou na bagunça da mudança para a casa nova. Em vão. Repentinamente, um miado dentro do freezer.

Jogou uma moeda na fonte. Fechou bem os olhos. Desejou. Pediu saúde; ganhou uma cartela de aspirina.

No prato, nhoque, queijo, molho e cianureto. Ela mal podia se conter ao vê-lo dar a primeira bocada.

Primeiro dia do ano. Lista de objetivos em mãos. Item um: "deixar a vida me levar". Amassou o papel.

Na véspera de Ano-novo: "Só podem comer depois da meia-noite, hein!", disse a mãe daqueles gremlins.

Em dezembro, riscou todas as segundas-feiras do calendário do próximo ano. Esperava enganar o tempo.

Escreveu: "Te amo, Tom. Se não aparecer para me impedir, vou me casar com Raul". Carteiros em greve.

Este nanoconto de Edson Rossatto foi adaptado para o cinema. Assista abaixo:
 

PRODUÇÃO: Cauê Fernandes e Raphael Pereira Santos
ATRIZ: Luna Fonseca
VOZ: Luisa Menezes.
AGRADECIMENTOS A: Bianca Caballero, Isis Delboni, Heloísa Soares, Luisa Cardoso, Aimèe Fernandes.

O sistema operacional "Terra" travou. Enfureceu-se: apertou ctrl + alt + del. Na tela: "APOCALIPSE".

Beijou leve e demoradamente a face macia da avó. Um beijo repleto de amor. Depois lacraram o caixão.

Sofria muito por fazer parte de uma minoria. “Meu Deus! Estou tão na dúvida: Ferrari ou Porsche...?”

“Sem aumento. Você é um profissional ultrapassado”. Muito triste, datilografou sua carta de demissão.

Queria se sentir bonita. Em frente ao espelho, passou batom com mãos trêmulas nos lábios enrugados.

O mais belo som que já ouvira. Nove meses de ansiedade e finalmente estava ouvindo a música da vida.

Retornou do oftalmologista com óculos novos. Deprimido, passou a enxergar a esposa com outros olhos.

De peito nu, passou por um bando de palmeirenses. “Ufa”. Tirou da bolsa e colocou a camisa do timão.

Brindou à promessa de não mais fumar. Alguns anos depois, passou a frequentar o Alcoólicos Anônimos.

Batom, rímel, vestido justo, decote farto... Conseguiria aquela promoção ou seria demitida tentando.

Alistou-se para o exército celestial. Foi recusado. Só lhe restava ser apenas um querubim ou cupido.

Para alguns, era só uma alavanca que ligava eletricidade; para outros, era o acionamento da justiça.

No parquinho, negros, brancos... Todos com daltonismo social. Quando crescem, infelizmente se curam.

No corredor da morte, a última refeição do canibal. Na bandeja, uma gueixa. “Adoro comida japonesa”.

Pegou o metrô na Clínicas. Estava confiante de que desceria na Saúde. Entretanto, saltou no Paraíso.

Levou doze minutos para subir os degraus da escada. Sua melhor marca desde o início da fisioterapia.

Comeram o fruto. "Estamos pelados!". Sentiram-se observados. Era o primeiro Big Brother da história.

CLASSIFICADO: “Troco enxoval rosa de bebê por enxoval azul e aceito dica de um obstetra competente”.

Ela o amava, mas teve de matá-lo. Estava velho, cego, manco e mal conseguia usar sua caixa de areia.

Escutou o tiro, sentiu o baque, viu o inimigo, cheirou a pólvora e provou o gosto amargo da traição.

Era uma nação que se orgulhava de primar pela democracia. Naquele ano, resolveram escolher Barrabás.

Após o conclave, prevaleceu a insatisfação do clero devido à adoção do nome "Léguas" pelo pontífice.

Enriqueceu: abriu granja, adega e charutaria no shopping. Macumbeiros encontram tudo em um só lugar.

"Ei, a lula está mal passada". O garçom duvidou, mesmo vendo o molusco agarrado ao garfo do cliente.

"Eu não tenho medo! Cara feia, para mim, é fome". Era mesmo: foi devorado pelo canibal mal-encarado.

"O rabo-de-cavalo está muito apertado!". A mãe só acreditou quando viu os olhos puxados da filhinha.

Na sopa de letras, surgiu a desconfiança de que, com os anos, ela passou a odiá-lo: "FLIHO AD PTUA".

Protestou contra corrupção, impunidade. Mas o preço da cerveja na passeata era o que mais indignava.

Lavou a bandeira do Brasil. Foram saindo traças, insetos, vermes que havia muito se instalaram nela.

Sentia-se acolhida: fez da família dele a dela, enquanto a dela só era família mesmo nos sobrenomes.

Passagem de ônibus lá em cima, prestações de carro lá embaixo. Então a cidade entrou em slow motion.

O farmacêutico pediu a receita para o velho mau-humorado. "Se eu tivesse, faria o remédio em casa!".

A multidão tomou as ruas. Naquele dia, fizeram história. Jamais as coisas voltariam a ser como eram.

Orçamento: um bilhão. O governo comprou borracha. Não para as escolas, mas para as tropas de choque.

Milhões protestaram contra tantas injustiças que o governo levou quase quatro anos para anotar tudo.

"De quem é esse pezinho? E esse dedinho? E esse narizinho?". "Não sei! Veio tudo misturado do IML".

Amava homens de jaleco branco. Sonhava em esposar um médico, mas o destino lhe trouxe um açougueiro.

A namorada o deixou. Triste, ele encontrou um mendigo, que pediu dinheiro. Deu, mas pediu um abraço.

Ao ser canonizado, imaginou que teria entrada vip no céu. Precisou pagar trote aos santos veteranos.

Quis passar o Dia dos Namorados com um namorado. Ela só não tinha noção: errou o tamanho do aquário.

Para ela, comprou um par de brincos de ouro no Dia dos Namorados. Já ela, para ele, um par de meias.

Seu objetivo: propor noivado no Dia dos Namorados. O objetivo dela: terminar o namoro um dia depois.

"Ah, os incomodados que se mudem!". E ignorando os palavrões, continuou obstruindo a porta do metrô.

Encolheu os dedos como pôde. Seria assim até que seu pai pudesse lhe comprar um novo par de sapatos.

Comeu a calabresa, a portuguesa e a milanesa, mas não quis assumir compromisso com nenhuma das três.

Era escritor das ruas. Caiaram o muro do terreno baldio e ele só enxergou uma enorme folha de papel.

A dor que sentia era insuportável, mas passaria. Quando se esquecesse dela, seu cotovelo iria sarar.

Não se envergonhava por ter apanhado da esposa. Estava sem graça por ela lhe surrar com um bacalhau.

Tinha TOC por limpeza. Percebeu isso quando limpou o LP da Janis Joplin e a deixou com a voz aguda.

Colocou tantas palavras e sentimentos pesados na carta que, com o selo, ultrapassou o peso de envio. (Edson Rossatto)

Era religiosa, porém muito caloteira. Comprou um carro "em nome de Jesus" e Cristo foi parar no SPC.

Conseguiu fácil o telefone da garota e o anotou na mão. O difícil mesmo foi se lembrar do nome dela.

Quando o Diabo percebeu que seus seguidores só o seguiam de mentira, cancelou seu perfil no Twitter.

Depois de espancar a freirinha, o bandido bêbado se vangloriou: "Eu esperava mais de você, Batman!".

Parou em frente ao banco reservado aos idosos. Continuou a viagem em pé. Não aceitava bem sua idade.

Tornou-se ateu. Difícil mesmo foi convencer os biólogos a mudarem seu nome de louva-a-deus para Ari.

O metrô comia os trilhos, ele roía as unhas. Na próxima estação, ouviria finalmente a resposta dela.

O leãozinho era muito malcriado. Não respeitava os mais velhos. Ontem xingou até o tigre-de-bengala.

Entrou no trem e seu sorriso já foi correspondido. Depois que vendeu o carro, passou a flertar mais.

Ele, palmeirense, vivia na Barra Funda. Ela, corintiana, em Itaquera. Casaram-se. Foram morar na Sé.

Assinou um pacote de tevê fechada. Agora, na padaria, o cãozinho assiste a faisões, perus, pernis...

Quando gastou a sexta de suas sete vidas, escreveu um testamento. Deixou seu humano para o cachorro.

Admirou a lua e suspirou. "Tão grande e bela! Será mesmo que é feita de queijo?", sonhava o ratinho.

Correu, malhou, suou. Duzentos abdominais depois, conseguiu queimar o mousse de limão daquela manhã.

Vivia na Escócia e veio tirar dupla cidadania no Brasil. Gatinho esperto: queria ter quatorze vidas.

"Não dá! Você é frígida, Rebeca! Preciso de uma mulher de verdade". E jogou longe a boneca inflável.

"Ladrão! Já joguei dez moedas! Se mexe, poxa!", exigiu o bêbado, em frente à estátua de Dom Pedro I.

"Parla, parla", gritava o escultor bêbado, perseguindo com um martelo o ator que fazia estátua-viva.

Nunca a "paz" recebera tanta violência. Ela deveria ter tatuado a palavrinha na nuca e não na bunda.

Fez o gol, correu para comemorar. Mas a performance de pole dance no pau da bandeirinha não agradou.

Trouxeram ouro, incenso e mirra. Mas o que ela precisava, naquele instante, era de uma fralda limpa.

Pôs cinco calças e seis blusas para não sentir os tapas do pai. Esqueceu-se de protetores de orelha.

Prometia de tudo para vencer as eleições. No calor desgraçado daquele mês, ganhou votos com "chuva".

"E agradeço ao Senhor pelo alimento que comeremos agora", disse o ateu educado ao anfitrião cristão.

Tirou o sábado para descansar. A partir do domingo, teria seis dias para construir um outro planeta.

No metrô, levantou-se e ofereceu seu lugar ao octogenário. Afinal, era um sexagenário muito educado.

Acordou com 44 anos. Um jovenzinho no espelho. Sorriu. Pulou e deu um soco no ar. "Ai minha lombar".

Era cabeludo e tímido. Esperava conseguir se declarar à cabeleireira enquanto ainda tivesse cabelo.

Sempre detestou as segundas-feiras. Até um feriado cair justamente em uma. Então odiou aquela terça.

Um corpo inerte na cama ao lado. Tocou-o e ele se mexeu. Alívio. Nunca acordava antes do que a irmã.

Palavras só estragariam... Aquele abraço era o pedido de desculpa mais sincero que poderia oferecer.

Fez de seu útero um caixão. Ignorava que aquele defunto curaria justamente a doença que iria portar.

"É a última chance!". Aquele motorista de ônibus estava por um fio. Dormiu no ponto, acordou na rua.

Entrou por uma porta e saiu pela outra. Realmente odiava tomar o metrô de São Paulo na hora do rush.

Militou ardorosamente contra o governo até se tornar governo e repreender as militâncias contra ele.

Fim da Copa! Resultado: doze toneladas de fitinhas verdes e amarelas penduradas em postes pelo país.

EPITÁFIO: “Aqui jaz Zé Tonhão, que, em vida, nunca pediu desculpas (e morreu exatamente por isso!).”

Apertou o interruptor: as luzes se acenderam. Abraços, lágrimas. O progresso enfim chegou ao sertão.

CLASSIFICADO: "Trocamos gratidão eterna de pais desesperados por doador de medula óssea compatível".

Na tela, sfghtkxçypjto. Um bip repetitivo da cpu. No dia seguinte, acharam-no. A cabeça, no teclado.